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FESTA DA SANTA CRUZ - Aldeia da Venda - Alandroal

Atualizado: 7 de jun.


Conhece esta importante FESTA do nosso Concelho.

Podes ainda aprender mais acedendo a Arquivos RTP aqui  


As Festas de Santa Cruz 2024 realizou se este ano de 10 a 12 de maio, em Aldeia da Venda, Alandroal

Decorrem, de acordo com a tradição, no primeiro fim de semana de Maio.

As Festas de Santa Cruz são celebradas um pouco por todo o país, desde Barcelos até

ao Algarve, mas na Aldeia da Venda contam com algumas tradições bastante particulares.

Para além dos tradicionais concertos, arraiais e celebrações religiosas normais deste género encontramos, na Aldeia da Venda algumas especificidades que lhe dão uma característica bastante identitária.


Através do trabalho da Dra. Ana Paula Fitas, podemos conhecer algumas das suas particularidades e perceber o seu contexto sociológico.

"A Festa da Aldeia da Venda inscreve-se na religiosidade popular no contexto das designadas Festas das Cruzes mas revela, no que respeita à função social do culto, uma dimensão organizacional determinante para a reprodução societária autóctone, à revelia do controle institucional externo à aldeia. Esta vertente funcional dos mecanismos e processos endógenos que operacionalizam a lógica de reprodução social da aldeia, confere à Festa da Aldeia da Venda (também conhecida por Festa da Santa Cruz), uma natureza paradigmática, em termos de expressão do património cultural imaterial local e regional, na medida em que se constitui como elemento estruturante do processo de construção identitário da cultura local e regional. " in Resumo


Deixamos aqui a descrição das FESTAS da Cruz, inscrita na trabalho de Ana Paula Fitas "A Festa da Aldeia da Venda (Alandroal – Alentejo) Património Cultural Imaterial e Religiosidade Popular na Raia Alentejana-Extremenha"

“A Festa da Aldeia da Venda decorre durante 2 dias e se, para além da evocação do título de Santa Cruz em termos de integração nos rituais festivos da época, nos remete para outras manifestações regionais, destaque-se a associação analógica que suscita relativamente à realização da Festa das Ceifeiras de Fronteira, uma vez que o ritual do primeiro dia (sábado) apresenta aproximações à celebração do 1º de Maio ou Dia das Maias (apesar da integração de elementos cenográficos e do conteúdo da narrativa cantada que associam a apresentação formal do rito à representação popular dos episódios da paixão de Cristo) enquanto o 2º dia, domingo, se focaliza, exclusivamente, na retirada da Cruz da Casinha onde foi deixada toda a noite, para a casa onde ficará guardada até ao ano seguinte. Contudo, o objetivo da Festa da Aldeia da Venda não se esgota nos registos que podem ser observados nas restantes manifestações festivas desta época do ano e sob as designações que temos vindo a referir. Passemos à sua caracterização:

Numa rotunda localizada no cruzamento das ruas que atravessam a aldeia e onde foram colocados 4 mastros, posteriormente enfeitados com flores de papel, as mulheres colocam, ao centro, uma pequena mesa coberta com um pano branco decorado com laços de cor, bem como almofadas coloridas, de ambos os lados da mesa, enquanto, no chão do espaço envolvente espalham verdura e flores. Quando o espaço está arranjado, a aldeia espera por começar a ouvir o som agudo e quase estridente com que as vozes das mulheres enchem o espaço, entoando uma ladainha que se assemelha a um “pranto” e a que chamam “cântico”; as mulheres surgem organizadas em dois grupos distintos, um dos quais desce, enquanto o outro sobe, a rua principal da aldeia, até se encontrarem na pequena mesa preparada para o efeito. O grupo que desce rumo à encruzilhada é liderado pela Mordoma, vestida de branco e transportando nas mãos, a chamada Santa Cruz, enfeitada com ouro emprestado pelos residentes na aldeia para o efeito; o grupo que sobe para o local do encontro é liderado pela Madanela, vestida de negro e transportando nas mãos um pano com o rosto de Cristo coroado de espinhos. Cada grupo é constituído por um conjunto feminino formado por 1figura feminina central, ladeada por 2 madrinhas em cuja retaguarda seguem 4 cantadeiras com pandeiretas e por um conjunto masculino constituído por 3 atiradores que caminham de cada lado do grupo. O rito integra, portanto, 26 jovens, distribuídos em 2 grupos de 13 jovens cada um (7 raparigas e 6 rapazes). Com as protagonistas de cada grupo face-a-face, uma de cada lado da mesa, e as respetivas acompanhantes a cantar, ritmadas pelo som das pandeiretas e pelo som dos disparos dos atiradores, sob o quente muito quente das tardes de Maio, os grupos cantam e desenvolvem uma encenação designada “Encontro” que representa o esforço de união da diferença num momento cénico que inicialmente parece opor as guras centrais de cada grupo até ao contacto dos objetos simbólicos que transportam (a Cruz e o Pano). Este momento, conhecido como “Beijo”, assinala a concórdia entre os grupos e inicia a constituição de um grupo único que sobe a aldeia com as 2 figuras centrais ao lado uma da outra, as 4 madrinhas atrás, seguidas de duas filas de 4 cantadeiras; o grupo é ladeado por 6 rapazes, atiradores, de cada lado. O grupo dirige-se para a Casinha da Cruz e, à porta, as duas figuras centrais, Madanela e Mordoma, apresentam juntas a Cruz com o ouro comunitário à aldeia, num gesto simbólico de eliminação da discórdia e de partilha comum da riqueza. A Cruz sairá desta Casinha no dia seguinte para ser guardada na casa da Mordoma até ao ano seguinte. Os mastros e o arranjo do espaço, remetendo para a reminiscência da tradição que evoca o “enfeitar a Maia”, encontram o reforço desta reminiscência no facto da mulher que lidera um dos grupos, chegar vestida de branco (como as “maias”), de cabelos arranjados, calçada e transportando nas mãos, a designada cruz que consiste numa estrutura de madeira coberta por um pano branco e que, sob a forma de um losango, é utilizada para exibir a exposição do ouro comunitário que a população empresta e reúne para o efeito… Por oposição a esta forma ordenada de apresentação, surge a mulher que lidera o outro grupo, vestida de negro, descalça e de cabelos soltos, numa clara evocação do confronto da dualidade dos contrários: Desordem e Ordem / Organização e Caos / Inverno e Primavera / Noite e Dia / Preto e Branco / Trevas e Luz. Num simbolismo cromático que reitera as celebrações festivas da relação entre Natureza (evocando o fim do Inverno e a sua substituição pela Primavera) e Cultura (a Desordem e a Ordem), o Encontro protagonizado no referido espaço, coloca, frente a frente, as 2 protagonistas dos grupos envolvidos, cujos grupos evocam, através da narrativa designada “Martírios” (em que se descreve a versão popular dos episódios da Paixão), o sofrimento social que implica a desordem e o poder redentor da ordem e da união de esforços (simbolizada pela Cruz invocada enquanto objeto de poder salvífico e protetor da comunidade). Quanto ao Encontro dos 2 grupos podemos, em termos de hermenêutica socioantropológica, percecionar o facto de forma imediata associando-o às práticas e designações que recorrem ao termo para referir os encontros de Jesus nos episódio da Paixão ou, mais justa e adequadamente, devemos associar este momento simbólico de troca e de confiança entre os contrários, protagonizados por Madanela e pela Mordoma, à assimilação do elemento diverso na homogeneidade da aldeia que pode significar a apresentação e a aceitação pública de novas mulheres na aldeia para efeitos de integração no mercado matrimonial local. Registe-se que a chamada Cruz, simbolizada por um losango coberto por um pano branco onde a aldeia expõe o ouro, é transportada pela figura da Mordoma que configura a personagem da antiga Maia e apresentada no espaço público, rodeada de outras jovens, sendo o conjunto integrado pela figura de Madanela, a personagem que protagoniza o seu contrário. Ambos os grupos são acompanhados por rapazes, ditos “atiradores” (atendendo à sua qualidade e condição de portadores de armas) que, a espaços regulares e em uníssono, vão disparando numa atitude simbólica de defesa e proteção do ouro e das mulheres, isto é, do património material e imaterial da aldeia (a título de esclarecimento, retira-se que os disparos são atualmente de papelinhos coloridos e não de grãos de chumbo). O ritual deste 1º dia de Festa termina ao fim da tarde, próximo do pôr-de-sol, com a integração dos 2 grupos num grupo único que irá subir a aldeia até à já referida “Casinha da Cruz”, onde a Cruz, com o ouro comunitário, ficará até ao dia seguinte. E é agora, no final do 1º dia, depois da Cruz recolhida nessa Casinha aberta no espaço central da aldeia para que toda a comunidade partilhe do seu efeito “benfazejo”, que a noite se converte na Grande Noite de Festa e que a Aldeia da Venda vive um momento anual único, partilhado no espaço público através de um convívio social que, entre comes e bebes, música, conversas e baile. E se a música, os “comes e bebes” e o movimento de pessoas e conversa contribui para a criação de um ambiente de exaltação, o Baile concretiza a aproximação interpessoal entre rapazes e raparigas, com particular destaque para os que integraram o rito e ainda que sob a atenta e eficaz vigilância familiar exercida designadamente através dos seus elementos femininos (mães e tias) que se sentam à volta do recinto do baile de forma a poderem observar todos os movimentos no seu interior. Registe-se ainda que, no que se refere à população masculina adulta, todos se movimentam no exterior do recinto do baile, bebendo e comendo e conversando, vigilantes em relação ao aparecimento de estranhos ao local. Este é momento crucial da Festa da Aldeia da Venda, aquele em que todo o ritual adquire sentido pelo evidenciar da função social que representa e que consiste no estímulo coletivo da comunidade, através desta convivialidade, a que os jovens, rapazes e raparigas, deixem de ser solteiros para garantirem a formação de novos núcleos familiares. Pela composição dos seus protagonistas, jovens rapazes e raparigas, solteiros e em idade casadoira, capazes de simbolizar o património imaterial da aldeia constituído pela potencialidade de garante da reprodução social e do aparecimento de novas famílias, o rito constitui-se como uma apresentação pública dos jovens que podem garantir a continuidade e o futuro da aldeia. Vale a pena assinalar o facto de ser assumido pela comunidade de naturais e residentes na aldeia que a Festa é o momento em que é permitido publicamente aos jovens iniciarem relacionamentos que se concretizam em namoros de que se esperam e de que decorrem casamentos. No dia seguinte, o 2º dia da Festa, todos os elementos participantes se encontram na Casinha da Cruz para, cantando, a levarem para ser guardada, na casa da Mordoma/Maia, onde permanecerá até ao ano seguinte.”


FITAS, Ana P. (2014): “A Festa da Aldeia da Venda (Alandroal – Alentejo) Património Cultural Imaterial e Religiosidade Popular na Raia Alentejana-Extremenha”.

Podes ver o texto completo em:

Foto: retirada da divulgação da festa online


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