Na manhã fria de 10 de dezembro, os alunos do 2º e 3º ciclos do Alandroal participaram no encontro com o escritor angolano Ondjaki, no Fórum Transfronteiriço do Alandroal numa iniciativa da Câmara Municipal.
Ondjaki começou por cantar uns versos do cantor brasileiro Gilberto Gil , como forma de abertura da sessão, criando um ambiente de calma e tranquilidade na plateia.
"Mana, teus cabelos, mana são os arvoredos
toca fogo neles, mana, de manhã bem cedo"
Referindo-se à língua portuguesa que é também falada no seu país natal, disse que em Portugal existem três línguas oficiais, o Português, o Mirandês e a Língua Gestual Portuguesa e confessou ter pena que quando se criaram as línguas gestuais de cada país ninguém se tenha lembrado de criar uma língua gestual universal, que todos pudessem usar. De facto é uma ideia muito interessante, imagina se a língua gestual fosse universal poderíamos comunicar por gestos com pessoas de todas as línguas, mesmo sem as compreender.
Quanto ao seu nome, antes que alguém perguntasse, ele explicou que é um nome tão normal como é Lúcia ou um qualquer nome chinês que nós não estamos habituados a ouvir, é um nome que tem a ver com o seu país.
Neste encontro que foi como uma pequena conversa ficámos a conhecer melhor o escritor e o seu processo criativo. Através das perguntas feitas pela plateia ficámos a saber também de algumas curiosidades sobre ele e até nos contou um segredo.
Nasceu em 1977 em Angola, quis ser piloto de uma nave espacial mas o pai desencorajou-o pois achava que seria uma profissão sem futuro em Angola. Não se lembra do ano exato em que começou a escrever mas lembra-se de quase todas as professoras de português que eram sempre senhoras, sabia os seus nomes e até se lembrava “daquela professora com um lindo pescoço comprido” e lembra-se que o que o fazia mais feliz era quando as professoras mandavam fazer “uma redação de tema livre”, talvez tenha sido aí que começou a ser escritor.
Estudou em Portugal no ISCTE e foi, talvez, nos corredores do ISCTE , onde gostava de assobiar com os seus amigos, o Rui e a Ana, para ouvir o som do eco, até que os professores os mandassem embora zangados, que encontrou inspiração para o livro "O assobiador". Também foi importante para esta obra a influência musical de um tio seu.
A sua primeira obra foi editada em 2000, era uma coletânea de poemas que ele ia escrevendo e que reuniu num livro intitulado "Ato Sanguíneo". Já o seu primeiro livro livro de contos foi escrito com cerca de 21 anos. Não sabe qual é a sua obra mais famosa pois todas são vendidas em vários países e em quantidades diferentes e ele não faz esse cálculo. A obra mais recente chama-se "Os olhos grandes da menina pequena".
O livro que mais gostou de escrever é sempre o próximo, o que ainda não foi escrito mas o que demorou mais tempo a escrever foi "Os transparentes", depois de ter a ideia começou a escrever mas este processo exigiu reflexão e talvez algum amadurecimento pois escreveu, reviu e reescreveu e só passados alguns anos considerou a obra pronta.
Todas as suas obras são baseadas em acontecimentos reais e inspiradas na sua família, que segundo ele é rica em histórias inspiradoras e também nos seus amigos. Por exemplo "Os da minha rua" , diz que é uma livro de lembranças, são 22 histórias, não tem uma história preferida mas diz que algumas foram mais difíceis de escrever pois "estão carregadas de emoção e memórias, são contos autobiográficos, baseados em coisas que vivemos, como "O portão" da casa da tia Rosa."
Gosta de ler também," pois a escrita faz-se daquilo que lemos" embora tenha pouco tempo para ler já que anda sempre em viagem, a sua "morada é o lugar 17D ou 23A no avião" e já percorreu o mundo em encontros com escolas e universidades, dando conferências, palestras ou participando em congressos. Escreve, também, guiões para a televisão e para teatro, tem uma livraria e uma editora em Angola. Apesar de ter pouco tempo para ler disse gostar muito de Afonso Cruz, um escritor que vive no Alentejo.
De todos os países por onde viajou São Tomé, Suíça, Holanda, Cabo Verde, Canadá, República Dominicana, gostou muito de visitar o Senegal destacando a beleza da ilha de Gorée ao largo de Dakar e Zanzibar que fica na Tanzânia, diz que" é lindo, tem uma cultura de diferentes culturas; tem banana, manga, goiaba e os cheiros são incríveis".
Gosta de desporto como futebol, hóquei e xadrez e de música mas não tem sons preferidos não gosta de heavy metal mas gosta de gotic metal e dos nossos Moonspell.
Contou que um dia em Nova York, quase tropeçou numa estrela da música, até se desculpou "Sorry" mas não a reconheceu, foi o seu amigo que lhe disse que era a Byoncé. "Que pena, talvez lhe tivesse pedido um autógrafo."
Quando lhe perguntaram qual era a coisa mais importante na sua vida, achou que era uma pergunta difícil de responder mas à qual deu uma resposta que pode servir-nos de lema de vida, por suas palavras disse que o mas importante é é estarmos tranquilos, "fazer, dizer e agir de modo a que possas dormir tranquilo, tentar estar bem com os outros".
Ahhh, o segredo! Não contem a ninguém mas o próximo livro chama-se "O Tempo do Cão" e irá sair em fevereiro de 2025.
Muito obrigado, Ondjaki, gostámos muito de o conhecer!!
Os alunos do 5ºA.
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